O Arroz de Casca

quinta-feira, junho 28, 2007

eles não tocaram esta, mas alguém tocou


Ela era pouco mais que pequena. Ele já era grande. Ele tinha na imaginação o mundo da paz e do amor livre. Num tempo em que Cobain estava quase morto, ele ouvia Doors, Joplin e Stones. Ele ensinou-a a calcorrear o chão do Louvre, a torcer o nariz à Vénus de Milo e a admirar a Vitória de Samotrássia. Ela ofereceu-lhe alguma inocência e dois olhos de espanto. Ele ensinou-a a andar à chuva em Paris. E se era importante andar à chuva em Paris...Ele ensinou-a a fugir dos jardins de Versalhes para visitar Morrison no Père-Lachaise. Ensinou-lhe o silêncio do ritual. Entre velas e cigarros, ela pensava na impossibilidade de chegarem os dois "àquela nuvem em forma de cachimbo". Hoje, já lhe passou outra metade igual de vida pela frente. Ela cresceu para o Mundo. Mas não para Paris ou para "Angie". Angie será sempre uma banda sonora de longos cabelos loiros. Uma barba por fazer ao lado de um gato de circo. Angie, como uma manobra desastrada para ficar ao lado dele. Angie como Montmartre ao fim da tarde... Num tempo em que o Inverno já tinha chegado, ela guardaria para sempre a dúvida: seria a tristeza dos olhos crescidos dele como a dos olhos de Angie? Foi como no cinema - eles terão Paris para sempre. Paris de olhos sussurrantes e guitarra na mão.

terça-feira, junho 26, 2007

Las Piedras Rolantes ou Velhos...são os trapos

Nunca fui particular fã dos Rolling Stones. Isto, reconhecendo-lhes obviamente o mérito e gostando de algumas músicas. Eis que fui surpreendida com uma oferta de bilhete para o concerto de ontem no Estádio de Alvalade. E foi mais do que surpreendente! Com substâncias ilícitas ou não à mistura, a verdade é que os velhinos Stones nada têm de velinhos. Estão completamente em forma e parece um verdadeiro milagre toda a energia vital e musical em palco. O alinhamento do concerto foi certeiro, os músicos acompanhantes da banda fantásticos, os solos à altura. Todo o palco era gigantesco, com estruturas móveis, efeitos especiais e fogo de artifício. Três pormenores a apontar, apesar de a encenação ter ajudado muito o espectáculo e ter estado quase sempre à altura daquela impressionante máquina de cena. As estruturas mais altas (como dois edifícios de 4 andares), podiam ter sido diminuídas uma vez que, na prática, só são realmente utilizadas numa canção. Há também uma gigante língua insuflável que supostamente serviria para engolir os músicos e a pequena estrutura móvel onde tocavam naquele momento...Acontece que a "língua" não teve qualquer função. Finalmente, esteve mau o som da fadista Ana Moura enquanto cantava com Jagger. Além disso, a interacção das duas vozes parecia não fazer sentido.
Pormenores à parte num concerto brilhantemente arquitectado, o mais impressionante é ver Jagger - para lá dos 65 anos - a correr de ponta a ponta, e durante 2 horas, num palco quase da largura do estádio. Jagger dança e rodopia nas próprias pernas, no seu estilo único e inconfundível. Mesmo na recta final, o vocalista ainda corria, saltava e cantava ferozmente numa extensão do palco que o levava até à ponta oposta do estádio.
Um espectáculo inesquecível. Pela competência musical e cénica. Pela disponibilidade. Pela história de um grupo ímpar. Se pensarmos que eram companheiros dos Doors ou dos Velvet Underground... Os Rolling Stones detêm uma energia invejável face a muitas bandas de gente com idade para serem seus netos. É a força do espírito que dá lições à passagem dos anos.

segunda-feira, junho 25, 2007

Trienal de Arquitectura de Lisboa


Que sim, que a exposição tem coisas bonitas. Ah, poisque tem. Que sim, que vale a pena ir ao Pavilhão de Portugal vê-la...poisque vale. Fantásticas soluções de ocupação e aproveitamento do espaço. Imaginação e arte a rodos. Importante a noção da "filosofia social" subjacente a muitas obras e ideias. Dois "piquenos" pormenores: os arquitectos - uma das classes cuja empregabilidade é precária e mal remunerada, sobretudo entre os jovens - têm de pagar na exposição...Ora se é um modo de formação, pelo menos os que apresentassem o cartão da Ordem, não deviam ter de pagar 6,5 euros para entrar! Com este nível de vida, 6,5 e meio para entrar numa exposição pode ser excessivo, seja como for...E não fiquei com a certeza que houvesse descontos para estudantes! Pior: a sinalética da maior parte da mostra está em inglês (com muitos termos técnicos) porque a organização não se deu ao trabalho de a traduzir. Portanto, uma mostra organizada no Pavilhão de PORTUGAL cheia de textos em inglês...Alguém imagina o mesmo a acontecer noutro país da Europa??? É a CML que continua a marcar pontos. E os comissários da mostra que admitem semelhante coisa.

domingo, junho 24, 2007

Time After Time

sexta-feira, junho 22, 2007

O meu primeiro festival

De facto o marketing tem artes do arco da velha. Resolveram, por estes dias, criar um festival - à semelhança de um grande festival de música - mas para criança ver. A questão é a seguinte coisa: num recinto enorme, em vez de actuarem as bandas do momento, vão actuar as Doce Mania e as personagens Noddy, Leopoldina, Bratz e Oliver e Benji. Espaço ainda para uma zona «Playstation» e pistas de carros telecomandados. Isto fora o espaço "lounge", etc e tal...Traduzido em números, o «Meu Primeiro Festival» vai implicar um investimento de dois milhões de euros, 1.680 minutos de espectáculo, 22 mil litros de água e 200 colaboradores. São esperadas 80 mil pessoas. Afigura-se um negócio da China, de facto...
Serve isto e um comentário muito engraçado que li (em A Pipoca Mais Doce) sobre crianças que, na quarta classe, já têm viagens de finalistas, para questionar o modo como hoje as crianças são donas e senhoras dos pais, da casa, das prioridades da família, do consumo familiar, etc. E não é questão de fazer figura de Velho do Restelo, mas, pergunto: não é tudo isto um excesso bacoco de um país que só há pouco tempo aumentou o seu poder de compra (para agora começar a perdê-lo de novo)?
Criancinhas a trocar números de telemóvel, fumarem cigarros de chocolate, trocarem o último vídeo pirateado das Bratz, verificarem a marca dos novos óculos de sol e exigirem aos papás que gastem 100 euros numa tarde? Não há pai que aguente!
Brincadeiras à parte, a questão não está no divertimento dos miúdos, mas na máquina consumista por detrás de toda a sua existência. Dá que pensar como é que os senhores do marketing atacam este alvo sedento e sem capacidade crítica. Dá que pensar que os pais muitas vezes também não a tenham ou, pior, não a queiram exercer.E dá que pensar que, para além deste lazer dispendioso (e forçoso para bolsos não tão abonados), não haja muitas vezes o contraponto. Um contraponto feito de uma chamada de atenção para as questões mais básicas da vida. As questões que (n)os fazem realmente crescer.

quinta-feira, junho 21, 2007

Eu & As Máquinas: A Saga - parte 3051


Parece que a real chatice da Lei de Murphy me persegue...Estava eu muito preocupada (por que é que seria? parece que pressentimos...) com uma bela entrevista que tinha de fazer ao telefone para Berlim, eis senão quando a pronúncia da senhora do outro lado da linha era pior que escocesa...Só pensava: o que vale é que tenho a gravação. Qual quê? Quando fui ouvir a gravação, ouviam-se algumas perguntas minhas no fundo de um poço, acompanhadas por um ruído monocórdico e ininterrupto. Claro está que não tive coragem de telefonar outra vez para Berlim e pedir à senhora para repetir tudo... Até porque não tinha qualquer garantia de a geringonça funcionar. Senhores, que mal (eterno ?!) fiz eu às máquinas?


PS- A imagem ilustra bem a minha figura à procura do neurónio tecnológico de que fui destituída à nascença.

sábado, junho 16, 2007

Moon Water: da fluidez dos nossos passos


Cloud Gate Dance Theater é de facto uma experiência. Considerada a única companhia de dança contemporânea vinda da China (mais especificamente de Taiwan), o grupo apresentou Moon Water no Festival de Sintra. Mais do que uma interpenetração de Tai Chi, artes marciais e outras influências orientais com dança contemporânea, Moon Water pára o nosso tempo ocidental. O movimento com que nos deparamos é fluído, sem clímax ou anti-clímax. Ao longo do espectáculo vamos podendo ver esse movimento progressivamente reflectido em espelhos diversos- em diferentes posições e de diferentes dimensões - e na água que inunda o palco e reflecte os movimentos dos bailarinos. Quando o nosso tempo pára, podemos ver os diferentes ângulos do reflexo de nós próprios, devagar e ao longo daquele tempo, como se de etapas da vida se tratasse. O espelho reflecte corpos que se movimentam ao longo de uma espécie de via láctea ou reflexo da lua desenhado no chão. É o espelho de um outro tempo onde observamos cada movimento do corpo perante a vida. Mais do que um confronto entre yin/yang ou real/irreal, através do reflexo e do barulho da água observamos a fluidez - ou a sua ausência - nos passos do nosso próprio caminho. A filosofia oriental tem, seguramente, alguma fluidez para trazer a este lado do Mundo.

quarta-feira, junho 13, 2007

O Beco da Bicha ...ou Viva os santos populares!





Se há coisa de que eu gosto é do Santo António. Ele é uma cidade inteira a cheirar a sardinhas até à beira rio. Ele é a maior das confusões para arranjar mesa para a jantarada (que dá direito a verificar o mau estado do nosso civismo). Ele é, no final, ficarmos todos amiguinhos dos nossos "adversários" de mesa (coisa bonita!) . Ele é sangria aos trambolhões. Ele é percorrer as zonas mais bonitas de Alfama (de que nos esquecemos durante o ano). Ele é encontrar o Beco da Bicha. Ele é vislumbrar ao longe um ex-namorado engordado (credo!) ao melhor estilo pai-de-família Ele é falar e dançar com todo e qualquer transeunte. Ele é entrar na Igreja de Santo António e acender uma velinha ao nacional padroeiro dos namorados a bem do estado dos nossos Amores. Ele é pedir ao santo "saudinha", sucesso profissional, paz no mundo e, já agora, a continuação da empresa de que sou patroa (que trata de amores e desamores)...Ele é, inevitavelmente, ir para a famosa Rua da Adiça, para casa de Vera Mónica como manda a tradição, dançar até cair e ouvir os vizinhos do 16 pôr música da "mai linda" - tipo o «É Demais», das Doce. Ele é acabar a beber coca-cola e café às 5 da manhã, porque o álcool ameaçava fazer estragos. Ele é chegar a casa contente. Contente da festa. Contente da gente.

terça-feira, junho 12, 2007

Um ano de Arroz de Casca








Parabéns!!!!!!!
Hoje o Arroz de Casca faz um ano! Têm sido conversas em vários tons e vários comprimentos de onda. Em jeito de balanço diria que quis imprimir uma certa leveza e levar a realidade de forma "algo jocosa". Mas, como na receita da vida, este "arroz" não tem sido uniforme. Os tons rosa e os cinza vêm ao de cima consoante as épocas ou circunstâncias. Seja como for, é bom olhar e ter uma visão panorâmica sobre sensações, aventuras, espantos, sentimentos, gostos, desgostos, paixões e muitos disparates. Houve momentos de pura parvoíce e outros de alguma pertinência (espera-se). Aqui tenho dado azo ao meu prazer de escrever. E espero partilhá-lo com quem por cá vai passando.
PS- O Arroz de Casca orgulha-se de o seu aniversário ser comemorado em dia tão especial. (O ano passado era a loucura do Mundial!) A data pode ser assinalada (ui, que importante!) em plena noite de St. António, entre sangria, sardinhas, arraiais e muita animação. Para além de ser um dia em que nasceram (e morreram tb) grandes talentos da nação, é uma feliz coincidência juntar este aniversário a uma das melhores festas do calendário anual!

domingo, junho 10, 2007

A CML, o pai de Robert De Niro e os jantares de gala

É inacreditável ao ponto que a Câmara de Lisboa chegou. Sem dinheiro para colocar rolos de papel higiénico nalguns departamentos, resolveu a administração cessante gastar mundos e fundos a montar a exposição, de duvidosa pertinência, do pai de Robert De Niro. Eu não conheço o trabalho do senhor e nem vou falar disso, embora o critério cheire a esturro...Pior é gastar nesta mostra, provavelmente, a maior fatia do orçamento para exposições. Estes senhores da invisível tutela Carmona Rodrigues resolveram também não convidar as habituais pessoas interessadas...Preferiram fazer uma nova lista de convidados VIP - com direito a passadeira vermelha no Palácio das Galveias. Qualquer coisa tipo Globos de Ouro Sic, ou evento no género. Como se já não bastasse houve ainda o JANTAR DE GALA da inauguração que, segundo consta, foi pago pela câmara!!! O vereador Amaral Lopes está com o juízo a arder??? Será possível semelhante absurdo despesista e política "socialite" para a Cultura??? É que nem Pedro Santana Lopes chegava a tanto!

quinta-feira, junho 07, 2007

Encruzilhadas

Cruzamentos, encruzilhadas, novos caminhos, estradas de alcatrão, caminhos de terra batida, trilhos inexplorados na floresta...Tudo isto e muito mais se cruza de quando em vez na nossa existência - de cada vez que temos de tomar uma decisão e de cada vez que as decisões vêm ter connosco e nos pedem para serem tomadas...ou não. Às vezes andamos desesperados à espera que caminhos, portas e janelas se abram à nossa frente. Outras, é janelas a abrirem-se de par em par - e todas ao mesmo tempo - e nós sem sabermos em qual colocar o vaso da nossa sardinheira (pode ser manjerico pq estamos quase no St. António!). A partir de determinada altura temos a sensação de que qualquer chão que pisemos é mais definitivo, e que a escolha de um caminho leva a decisões que se ramificam por toda a nossa vida, e que serão determinantes a médio e longo prazo. Se temos de escolher um tipo de trabalho, sabemos que isso influirá no estilo de vida que possamos vir a ter e mesmo nas opções mais pessoais da nossa vida. E às vezes é terrível viver as coisas com semelhante peso. Queremos que as nossas escolhas sejam as mais felizes, as mais produtivas, as que nos façam verdadeiramente evoluir, as que não nos cortem as vazas da nossa vida pessoal...Pensamos, pensamos, pensamos e sabemos que qualquer escolha é difícil porque qualquer caminho é incerto. Por vezes a vida (o destino ?!) decide por nós; outras há em que temos a "ilusão" (?) de termos sido nós a decidir. Frequentemente racionalizamos demasiado e esquecemo-nos de que "às vezes a nossa natureza sabe mais do que nós". Se olharmos para trás, talvez intuição e circunstâncias tenham sempre o lugar de juíz nesta causa. Podemos é levar apenas a razão em ombros e não querer dar ouvidos ao lugar interior que nos fala desta "nossa causa".

ps- Na minha busca de imagens descobri que existem o Rei e a Rainha das Encruzilhadas, a Rainha das Sete Encruzilhadas e a Senhora das Encruzilhadas. Acho que é caso para pegar nestes super-heróis (só podem ser!) e pedir ajuda!

sexta-feira, junho 01, 2007

Bola de Sabão


E hoje, qual criança (e porque é o dia delas), pus mais uma bola de sabão a voar para o futuro!