eles não tocaram esta, mas alguém tocou
Ela era pouco mais que pequena. Ele já era grande. Ele tinha na imaginação o mundo da paz e do amor livre. Num tempo em que Cobain estava quase morto, ele ouvia Doors, Joplin e Stones. Ele ensinou-a a calcorrear o chão do Louvre, a torcer o nariz à Vénus de Milo e a admirar a Vitória de Samotrássia. Ela ofereceu-lhe alguma inocência e dois olhos de espanto. Ele ensinou-a a andar à chuva em Paris. E se era importante andar à chuva em Paris...Ele ensinou-a a fugir dos jardins de Versalhes para visitar Morrison no Père-Lachaise. Ensinou-lhe o silêncio do ritual. Entre velas e cigarros, ela pensava na impossibilidade de chegarem os dois "àquela nuvem em forma de cachimbo". Hoje, já lhe passou outra metade igual de vida pela frente. Ela cresceu para o Mundo. Mas não para Paris ou para "Angie". Angie será sempre uma banda sonora de longos cabelos loiros. Uma barba por fazer ao lado de um gato de circo. Angie, como uma manobra desastrada para ficar ao lado dele. Angie como Montmartre ao fim da tarde... Num tempo em que o Inverno já tinha chegado, ela guardaria para sempre a dúvida: seria a tristeza dos olhos crescidos dele como a dos olhos de Angie? Foi como no cinema - eles terão Paris para sempre. Paris de olhos sussurrantes e guitarra na mão.