O Arroz de Casca

terça-feira, outubro 31, 2006

À minha espera

Sete anos passados,
cá estou eu para ti.
Lavo a cara nas lágrimas que
não secaram,
e escrevo-te
estas linhas.
São palavras apenas,
aquelas
que se estivesses
por cá teria vergonha de sentir.
Como não estás,
posso esconder-me
por detrás do nevoeiro
que cobre esta noite.
Escrevo
para dizer que muito
do que vou sendo a ti devo.
Apesar das fragilidades,
sou
porque me amaste sem condição
porque me deste o que não tinhas
porque me acreditaste sem motivo
porque me deste a mão e me aconchegaste o cobertor
porque me disseste: "tapa-te bem".
O nome deste espaço a ti se deve, como, aliás,
muitas das expressões idiomáticas da minha vida.
Se vou suportando o peso deste Mundo,
se ergo a cabeça e sigo sorriso em frente,
é porque me ajudaste a saber que
ele só não acaba amanhã
porque estarás sempre naquele quarto.
À minha espera.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sol depois de "um mês" de chuva

Hoje está sol! (e ele que não faça a gracinha de desaparecer daqui a meia hora!)
O sol brilha para nós depois daquele "mês" de chuva de há dois dias atrás!
Nada melhor do que o Sol para iluminar horas azincentadas.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Lugar Comum

Pode ser um lugar comum, mas que os lugares comuns existem, existem...Tal e qual como as bruxas! Passo a explicar: à terceira tentativa lá consegui ir às Finanças - essa instituição que mete medo ao susto...Depois de a minha antiga repartição (onde literalmente e sem nenhum exagero só faltavam baratas a subir as paredes) - flop!, se ter evadido subitamente no ar, lá fui à procura da substituta. Segunda vez: nova repartição e...horário errado. Terceira vez: repartição alheia. E é neste momento que chega, contente e de patins em linha, o "lugar comum". Ora vejam: a repartição era normal, não subiam baratas pela parede apesar do seu mais profundo cinzentismo e da sua apagada e vil tristeza...Até aqui, tudo bem. Pouca gente lá dentro...óptimo! Pois quando chega a minha vez e me atende um sr. mobília-da-casa-há-20-anos-mínimo - portanto, criatura mais do que versada na matéria - eis que lhe faço uma simples pergunta. Só um pequena perguntinha sobre um mecanismo da Segurança Social que está relacionado com as Finanças e que ele está careca (mais careca do que ele próprio) de saber! E sabem o que me respondeu? «Não sei nada disso! Era o que faltava agora estar aqui a responder a 'coisas' da Segurança Social. Como se não tivessemos cá 'coisas' suficientes!».
Depois de semelhante acolhimento e eu - numa repartição vazia - apenas a argumentar que o simpático sr. poderia saber uma vez que lida com o assunto diariamente (afinal não lhe perguntei nada sobre os mecanismos de tortura das SS ou coisa no género) ... Não é que ainda me perguntou se alguma vez tinha estado inscrita nas finanças?! Terei eu ar de morangos-com-açuçar? Só faltava dizer que nunca trabalhei e «não sei nada da vida»!

PS - Seria possível reciclar estes agradáveis senhores - arranjar um vidrão para as finanças, o Finanção - ou atirar-lhes um baldes cheiinhos de boa vontade, boa educação e cidadania?

Blargh!

terça-feira, outubro 24, 2006

Para a menina Inês Joana

É só para deixar um grande beijinho de parabéns à menina Inês que hoje faz três décadas debaixo deste sol. ;)

Oxalá Cresçam Pitangas - estórias de Luanda

O Doc Lisboa e a Culturgest tiveram a inteligente ideia de se associar. Quem esteve no último sábado a ver "Oxalá Cresçam Pitangas", ainda que, como eu, agradecidamente nas escadas (estava esgotadíssimo), pode comprovar isso. O excelente documentário de Kiluange Liberdade, Ondjaki e restante equipa, superou as espectativas. A comunidade angolana marcou forte presença e, em tantos anos, nunca vi a sala tão ao rubro, a gargalhar, e com uma energia tão informal. Ainda para mais com um filme que mostra, inevitavelmente, muita pobreza. Só que o olhar dos criadores é um olhar de esperança, um olhar bem humorado, um olhar em desenvolvimento - é essa a inteligência de um documentário que não tem um momento morto. Tem tempos "de respiração". A Culturgest só ganha em ter a casa cheia e sair do registo de sala só para elites. E o Doc Lisboa é um grande sucesso com muitas sessões esgotadas, o que, num país como o nosso é francamente de louvar!

sexta-feira, outubro 20, 2006

Procuram-se Boas Notícias

Com a electricidade a subir astronomicamente (e vão ver os aumentos que se seguem!), o sr. da Coreia do Norte a querer dar cabo de mais de meio Mundo, a questão "histórica" da reforma da segurança social - que mexe nos nossos presentes e futuros todos - já para não falar nos tornados no Ribatejo (e que segundo os sábios meteorológicos serão cada vez maiores por causa da nossa poluição) os dias vão de facto chuvosos...E uma boa notícia para alegrar aqui a malta, hum?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Ser Feliz

Encontrei este post de um texto atribuído a Fernando Pessoa num blog/site de curiosidades, ideias e sugestões. Gostei e resolvi reproduzi-lo. Ora vejam:

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa

Modas em Lisboa

Este fim-de-semana, e apesar da garganta "ao peito" não ajudar, lá rumei à Moda Lisboa. Vi Luís Buchinho e Ana Salazar, o primeiro com propostas mais interessantes do que as da segunda. Goste-se muito, pouco ou mesmo nada, assistir aos desfiles em passerelle ao vivo (e a cores ou preto e branco conforme a tendência) é sempre um "acto performativo" digno de se ver. O Museu da Electricidade, que acolheu o evento, é um edifício lindíssimo e à altura (falta-lhe talvez a largura!). O ambiente que envolve a coisa é sempre sui generis. Para além da "vipalhada" do costume - modelos, locutores, actores, etc - aparecem inevitavelmente figuras saídas de um qualquer filme de excentricidade comprovada.
Pessoalmente sempre gostei do espectáculo das passerelles que só se pode apreciar devidamente ao vivo. No ecrã é igual a ver dança na televisão - uma coisa sensaborona. A Moda Lisboa podia era limpar algumas arestas... É muito bom que exista, cheia de aves mais e menos raras. Mas seria óptimo que, por exemplo, os criadores não mandassem mais convites do que as pessoas que cabem no recinto. Da última vez que lá estive, sem ser em trabalho, aconteceu o insólito - com convite umas centenas de pessoas não entraram. Claro está que não voltei até me esquecer da proeza. Desta vez, incrivelmente, ia acontecendo a mesma coisa num dos desfiles a que assisti...Mesmo assim houve uma série de pessoas de pé que pouco terão visto. Acho que não será assim tão difícil ao fim de 15 anos aprender a controlar convites e listas de e-mail. Por outro lado - e mais importante - seria de louvar que houvesse um X de bilhetes compráveis, ainda que não a preços exorbitantes. Isto permitiria que parte dos interessados pudessem assistir aos desfiles. São os interessados que não frequentam estes meios e que não podem comprar em lojas de criadores nacionais - basicamente a larguíssima maioria dos portugueses. Por outro lado, a receita contribuiria para a organização que tanto tem ajudado os criadores portugueses, uma vez que lhes dá possibilidade de não pagarem muitos dos custos obrigatórios com o desfile. Moral da História: com um pouquinho mais de bom senso viviam todos felizes e contentes e havia uma maior democratização dos eventos de Moda em Portugal... A menos que, imagine-se, a organização pretenda manter aquilo que é também uma manifestação cultural num nicho. Moda para a elite da elite... Não me parece é que o país ganhe nada com isso.

Ainda não é moda em Lisboa mas devia ser. Exposições como aquela que ontem terminou no Museu de Arte Antiga são precisas. De Fra Angelico a Bonnard prepassa séculos de pintura no ocidente com nomes que dispensam apresentações: Canalletto, Renoir, Monet, Fragonnard e tantos outros grandes. Mesmo os grandes que (ainda) não conhecemos. Um bálsamo para os olhos, para os sentidos e para a alma.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco

Este não é apenas e simplesmente um título roubado a uma das maiores bandas portuguesas das últimas décadas. É que ontem, esta que aqui se assina, teve o privilégio de assistir a uma reunião dos seus heróis de adolescência - o Trovante. Foi sem mais nem menos que dei de caras com um anúncio de um concerto privado para o qual iam oferecer alguns convites num concurso via net. Concorri. Enganei-me...tinha sono. Voltei a concorrer. Não ganhei. No espaço de dois dias e sem grande convicção ia pensando: "devias ir". Mas o ataque de revivalismo foi hoje quando me apercebi que não me perdoaria se não fosse. E, costume de longa data, lá rumei eu ao Campo Pequeno à hora prevista e...disposta a tudo. Como a sorte protege os teimosos, os audazes e os saudosistas, dei por mim lá dentro, a olhar para o Trovante. Como se tivesse viajado na máquina do tempo.
As minhas mais racionais suspeitas não se confirmaram: não foi o concerto da brigada do reumático. Muito bem "orquestrados" e cheios de vigor.
O Trovante foi responsável por alguns dos mais brilhantes, caricatos e saudosos momentos dos meus "teen". Sabia que este seria, seguramente, mais um deles. Um momento luminoso - daqueles em que nos apercebemos que a felicidade é isso mesmo. Um lugar onde tive vontade de rir e chorar ao mesmo tempo (eu era sem dúvida a pessoa mais contente do recinto! - os vizinhos do lado que o digam), trauteando ou gritando a plenos pulmões canções que sei tão bem como o vocalista. Um caminho que me fez olhar para os trilhos onde andei, por onde ando e aqueles que, hoje e amanhã, quero pisar. Uma centelha de pura e genuína alegria. Porque as memórias (sobretudo as boas) são e estão onde quisermos. E há sempre alguém que nos faz pensar um pouco. Obrigado ao Trovante. Obrigado por estas "coisas tão naturais".

quarta-feira, outubro 11, 2006

Fellini & Almodovar

Mais um corrida, mais uma viagem. E o Lux comemorou as suas 8 primaveras. O que não foi nada primaveril foi a maneira como decorreu o evento. Duas ou três horas de fila à porta? Trinta ou quarenta minutos para, depois de 3 horas de espera, pedir um bebida???? Não, amigos, assim não dá. Gostamos do Lux, admiramos Manuel Reis, mas tudo tem o seu limite.
O tema Fellini & Almodovar foi muito bem pensado e teve uma resposta massiva dos convidados da casa. Nem no Carnaval se assiste a tamanha demonstração de imaginação perante o universo de dois criadores. Muita gente diferente, muitos disfarces criativos e personalizados. Mas ter de passar por um júri à porta para decidir se - quem foi convidado - está mascarado de forma interessante? Se "merece" entrar? Com tamanha demonstração de gente "imaginosa" e generosa como estes, repito, convidados, não era necessário.
De facto o 7 é um número simbólico. O ano passado ninguém duvidou. Uma organização melhor, mais atenta. Muitas portas que dividiam as pessoas e evitavam horas de espera. Uma festa extraordinariamente bem "produzida" com instalações, performance ao vivo, especialidades gastronómicas, recriações de época (lembram-se do fantástico cabeleireiro e cabeleireiras?), entre outros mimos .
Pois este número redondo não correu tão bem - embora deva ter havido coisas fantásticas que muitos que, como eu, entraram às 4 da manhã, já não puderam apreciar...
Entretanto,várias e pertinentes questões pairam no espírito de todos aqueles que se habituaram a acarinhar a melhor e mais cosmopolita discoteca/bar/sala de concertos do país... Para quê convidar para "nossa casa" muito, muitíssimo mais gente do que a que lá cabe de forma minimamente confortável? Para quê tanta espera? Para quê o julgamento, seguido da demonstração da grande honra de ter passado sob o crivo do júri? (Um verdadeiro óscar para o convidado??? [esta tem direitos de autor]) Catarina Portas a olhar para o nosso vestido e lançar um sonoro "sem dúvida"??? Isto não é o baile de máscaras da terra do sr. Jardim!
O Arroz de Casca acha que só há uma explicação para isto. Tudo acontece na sequência de alguma decadência que a casa tem sofrido desde que a porta sofreu alterações. Profundas. Desde que a frequência é outra e muito menos "misturada" do que em tempos idos, desde que, no Verão (amigos no Verão!), se pinta o fantástico 1º andar de preto e, em termos de organização do espaço, se volta as costas às varandas e ao rio. O Arroz de Casca acha que Manuel Reis está ausente. E tem pena.
Toda esta prelecção crítica em torno da festinha de aniversário? Pois que se fale daquilo que é bom, para que se não estrague. Se me diverti? Pois, acabei por me divertir. (É claro que também havia coisas bonitas e bem feitas). Encontrei muita gente. Ri muito. Dancei. Encarnei uma "bonitinha, bem comportadinha e penteadinha" criatura vinda do imaginário feliniano.
Mas se eu - e mais umas centenas - demos a volta à noite, foi graças à nossa infinita paciência e a uma grande dose de boa disposição. Porque a casa não fez as honras. (E toda a gente sabe que quanto mais alto se sobe, maior é a queda.) E o anfitrião, esse, não deve ter sabido da festa a metade.

terça-feira, outubro 03, 2006

Nem a Fé

A Coreia do Norte anunciou hoje que vai fazer o TESTE NUCLEAR para "testar a sua capacidade de defesa" face ao "amigo americano".
Será que tudo se verga à Coreia, aos seus ataques de INSANIDADE e à eterna "ameaça" dos "amigos-que-estão-descansadinhos-de perna-traçada"?
E o Mundo? Impávido e sereno?
Será possível que só haja vontade de fazer qualquer coisa quando as catástrofes naturais e humanas são inclementes e definitivas? De que servirá a vontade de agir quando não existir já nada que salve coisa nenhuma...Nem a fé.