O Arroz de Casca

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Pergunto

Há pessoas que nos cansam tanto porque nunca entendem aquilo que achamos óbvio e porque são pouco sensíveis e porque tanto dizem que sim, como não, como nim. Cansam-nos porque teimam em manter-se nas curvas sinuosas dos silêncios floreados. Pessoas que, se lhes dá na real gana, são capazes de nos arrastar nas mais violentas loucuras, mas depois perdem o pio e parece que nunca nos conheceram. Ainda assim, pergunto-vos, depois de tanto "cansar", porque teremos nós saudades delas?

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Scorsese.


Chegou o dia de "Marty". Já não era sem tempo. «Love your smile, Marty»

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Zeca e o Desassossego

Não foi hoje, nem ontem, nem anteontem. Já fez 20 vinte anos que ouvi a voz da minha mãe dizer: «o Zeca Afonso morreu, nós vamos ao funeral». Eu gostava do Zeca apesar da tenríssima idade e fiquei triste. Na verdade parecia-me estranho: ela nunca tinha ido a um funeral de um artista, tanto quando eu soubesse. À noite ela tardava a chegar. Lembro-me com uma nitidez absurda do noticiário televisivo (onde tb procurava a minha mãe) com uma imagem de um caixão transparente coberto de cravos vermelhos. Era o Zeca levado em ombros ao som da «Grândola» que toda a gente cantava. E no fim palmas, muitas palmas. «Não sabia que se podia bater palmas nos funerais».Quatro anos antes lembro-me do «último concerto no Coliseu» - uma memória muito mais vaga. Mas era um acontecimento que marcava uma criança, como eu, acabada de entrar na escola.
Cresci a ouvir o Zeca e não é porque em minha casa se ouvisse muita música. É porque o Zeca era e é inexcedível, porque era impossível ficar indiferente quando ouvia as suas melodias, a voz, o compasso. Era o arrepio que ainda hoje me contagia quando oiço as «Cantigas do Maio». Passam hoje 20 anos do dia do caixão transparente cravejado de cravos e passam também 20 anos sobre uma lição de liberdade, de música, de genialidade. José Afonso foi muito além do seu tempo - um músico que não ficou preso à mensagem política, porque era, na essência, muito mais do que isso. O Zeca não sabia ler uma pauta e sabia mais de música do que a maioria dos que a vão fazendo. E porque é pela arte, pela liberdade, pelo pensamento que nos vamos da lei da morte libertando, José Afonso cortou as suas amarras e ajudou a cortar um pouco das nossas. Nem tudo foi côr-de-rosa na militância política... Mas não é disso que falamos hoje. Hoje, somos nós que devemos amar um dos grandes que tivémos. Nós que, muito para além dos aniversários, podemos tão só escutá-lo. É a melhor homenagem que lhe podemos fazer. Obrigada pela arte e pelo desassossego. Obrigada, hoje e sempre. A tua música será maior que o pensamento.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

O Entrudo


Eu, uma dona de uma casa de passe em decadência/ anna karenina (? raio de máscara) e todas as "minhas" meninas para gerir. Havia meninas para todos os gostos: sado-maso versão tia; sexy waitress; diabinha; máscara de plumas na cabeça, etc, etc. Uma noite muito agitada portanto, com alguns simpáticos incidentes de percurso pelo meio, que, este blog se escusa a comentar em nome do decoro e da decência.
Pena foi que a chuva tenha afastado muita gente das máscaras e da rua. Costumo ver mais máscaras e melhores: é um facto. Nisto, ainda tive tempo de dizer ao Manuel Reis que o Lux já viu melhores dias (sobretudo na porta). Assim como assim, se escrevo coisas sobre a casa acho que devo dizê-las ao digníssimo proprietário do establecimento. Tempo ainda para ouvir que se os meus amigos mascarados já são poucos - a comparar com o tempo em que juntavamos 15 ou 20 numa casa em «mascaração» colectiva - daqui a 10 anos não resta nenhum. Uma visão algo cinzentoide (mas provavelmente algo realista) da passagem da década dos 30 para a dos 40. Olha, este ano foi o que se arranjou e foi muito bom. Agora toca a ir para os dois dias da nossa vidinha que os três do Carnaval...só para o ano.

sábado, fevereiro 17, 2007

São Notícias Portuguesas II

Ups, tinha-me esquecido do Alberto João a querer impugnar a lei do aborto porque o governo não tem "testículos"; o facto político que vai ser a sua "demissão" por causa da lei das finanças regionais e a sua subsequente candidatura e vitória em eleições antecipadas. Ah! Falta ainda um novo processo que Maria José Morgado abriu para Pinto da Costa. Mais alguma coisa? É só pedir: é p'ró menino e p'rá menina olh'ó!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

São notícias portuguesas

No mesmo dia ficamos a saber que a Câmara de Lisboa está em queda abrupta, as direcções de dois jornais cairam, na OPA da PT já se paga mais UM EURO por acção...Falta acontecer mais alguma coisa? Alguma demissão no governo? Vejam lá que é quase Carnaval e, a bem dizer, gostariamos de ir festejar mas sem mais tremores de terra por três ou quatro diazitos. Pode ser ou terei de me mascarar de «cataclismo político»?

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Insólitos Pessoais

Quando alguém fica quase duas semanas fechada em casa - tipo big brother - e já faz coisas como ver mapas astrais na net ou perder tempo a escrever disparates na blogosfera, é sinal que a coisa está mesmo mal, não é? E já agora, para continuar uma discussão começada algures, alguém tem algo a dizer sobre o ponto G?

ps- sim, é verdade, não estou boa da cabeça.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

O dia dos...


É inevitável. Juro que não queria perder nem uma linha a falar desta tradição anglo-saxónica importada há pouco mais de uma década que é...o dia de S. Valentim. Mas cá estou eu.
Nunca me irritou tanto o dia dos namorados como este ano. Sempre me irritou a ideia, mas agora a irritação chegou aos píncaros da lua! Digo-vos mais: nem entendia tanto ódio ou tanta devoção à data, tanto «frison»...Mas há sempre um dia. Ego doente, amores e desamores diariamente na agenda política pessoal, um coração cinzento em dias cinzentos e tantas outras razões para que ninguém me venha falar do dito santo. Com namorado ou sem ele, nunca fiz questão de comemorar, de dar presentes e acho que optava sempre por ir jantar com um belo grupo, nem que fosse só para contrariar. Neste fatídico dia, a máquina do consumismo sobe também aos píncaros da lua no registo mais piroso-foleiro de todo o ano. Nem o Natal chega a este ponto! São peluches, corações, roupa interior ridícula, colónias rascas, rendinhas e «i love you»'s por todo o lado! (Tenham medo...muito medo!)
Parece-me bem claro que quem se encontra no cume da paixão ou na felicidade amorosa plena não precisa de datas para alimentar a máquina consumista que nos devora a todos. Mas, por muito que ache que a paixão ou o amor são de todos os dias, a carneirada social neste dia acaba por ceder. Ceder à própria pressão e à pressão alheia.
Nunca é demais lembrar que o nossso dia dos namorados se comemora a 13 de Junho, dia de St. António, o verdadeiro padroeiro nacional dos namorados. Por isso, amigos, comemorem o St. António, acendam-lhe uma velinha pela chama do vosso coração e brindem ao amor com um copo de sangria na mão! De resto, a noite de Santo António é das mais tradições mais engraçadas e vigorosas do nosso calendário festivo...A temperatura sobe... e as almas, os corações e as camisolas soltam-se mais «quando é do verão das noites claras e faz calor dentro da gente».

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Teremos uma segunda oportunidade?

Às vezes temos momentos de humanidade total. Temos os sentimentos todos à flor da pele, ataques de fúria... pegamos em raios e coriscos e atingimos tudo à nossa volta. Às vezes até provocamos tremores de terra! (juro que não sou o prof. karamba disfarçado, mas na véspera do tremor de terra lembrei-me disso...assustador!) Quando a tempestade acalma um pouco, olhamos à volta e vemos o estrago. E se por um lado fomos autênticos, por outro exagerámos - ainda que saibamos que temos algumas razões. Não «razão». Não são muitas as vezes que tenho destes "ataques de humanidade", até porque durante muito tempo julguei que não tinha direito a tê-los. Apaziguava as coisas e pronto. Mas, para além de ser a mulher-aranha, tenho sangue, cartilagens e vírus que me atacam... Neste momento fui até transformada temporariamente(espera-se que seja breve) num cristal frágil. Se calhar foram os ET's... também já não seria a primeira vez. Quando exageramos, não teremos direito a uma segunda oportunidade?

ps- Apesar de remoer esta questão, acho que se alguém gosta minimamente de nós, nos dá o desconto. Mais tarde ou mais cedo. A questão é que há quem diga que nos aprecia na teoria. A prática é outra coisa.

domingo, fevereiro 11, 2007

SIM

Sim? SIM!
Portugal, «questão que tenho comigo mesmo», acho que estás de parabéns.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Demência aguda associa-se a vírus da gripe

Pelo post que se apresenta aqui abaixo (e outros tantos espalhados pelas folhas (!) deste blog), já deu para ver que gripe não é o meu único problema. Terei um ataque de demência aguda (que a grave é permanente) se ninguém me levar nas próximas horas a sair de casa ou falar com alguém - de preferência sem a (minha) cabeça a explodir. Estou enclausurada desde sábado e, ainda por cima, só saí para ir levar drogas para a veia no hospital! So-co-rro!!!

As coisas que se passam neste lugar


Eu, que até hoje estava convencidinha até às profundezas do meu ser que seria um E.T. ou, no mínimo, uma criatura a quem os ET´s abriram a cabeça e só colocaram disparates dentro para poderem fazer as mais estranhas e cinematográficas experiências(a minha vida é o filme)...afinal sou o HOMEM-ARANHA. Perdão. Pausa. Uma adaptação urgente urge (estas coisas que vêm do estrangeiro nunca funcionam): sou a Mulher-Aranha.


ps- obrigada à minha diligente amiga que me enviou O Teste para eu, finalmente, acabar com a crise de identidade. Começo a entender o porquê deste ranger do dente às melgas...começo, começo.

s.o.s - opá o E.T era muito mais querido!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Ora tomai lá atenção, senhores:

«Devemos enfrentar a realidade de forma ligeiramente jocosa. Caso contrário, erramos o alvo.»

Lawrence Durrell

Não chegou...

A pobre da menina teve mesmo de ir parar ao hospital, espetaram-lhe agulhas e tudo. Chuif! E ainda por cima as dores não desapareceram por causa disso. Se alguém conhecer esse virús avise-me...se eu o apanho faço-o em fanicos...Fanicos é melhor não. Cinza(?), para ver se não anda aí a aterrorizar criancinhas que, como eu, preferem fugir do hospital e das agulhas. Se bem que, aqui para nós que ninguém nos ouve, quando o desespero é grande só dá vontade de gritar - «façam-me o que quiserem (!), desde que me tirem as dores».
Adiante. E quem diz que eu vou ficar mais uma semana feita vegetal? Já tive dias demais sem conseguir ler, ver televisão ou fazer qq coisa de menos inútil que olhar para o tecto e pensar na vida. Por isso, e se o antibiótico colaborar, vai haver umas queridas que me vão levar ao cinema e à dança e assim. Nem que seja só duas horas, enrolada nas mantas todas cá de casa. Pode ser, não pode? Socorro!

ps- piquena advertência: dado o meu estado debilitado e de quase demência, aviso todos os queridos e queridas habilitados para o assunto que podiam ser uns doces, visitar-me, trazer-me novas glórias do mundo, mandar-me cartinhas simpáticas, fazer-me rir, oferecer-me ramos de flores, chocolates (belga e pró-amargo de preferência), fazer-me festinhas na cabeça e essas coisas. Boa?

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Ao Sr. das Gripes e Constipações


Não chega já 39,5º de febre? Veja lá se ainda quer mandar mais qualquer coisita para além das dores no corpo, na cabeça, da neura, da impossibilidade de fazer o que quer que seja (até doi escrever 3 linhas!)...Excelentíssimo: vá pregar para outra freguesia, que esta já tem mazelas que chegue. Combinado?

Sr. das Gripes: «Se você está constipado, se ficou mal de repente, foi porque não teve cuidado, porque foi imprevidente...la,la,la,la»

Constipada: «Não, não fui imprevidente e nem sequer andei à chuva. Vá engripar outro diabo qualquer e para bem longe! Insensível! Humpf!»

PS- Valha-nos o desespero e a estupidez natural, que o sentido de humor já não chega para isto!

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

INSÓLITOS PORTUGAL - O Regressado das Trevas

Pedro Santana Lopes no programa «Os Grandes Portugueses»:

«Identidade é coisa que não nos falta, não temos tido é muito jeito para nos governar».

«Sou um homem de acção, embora lírico também».

sábado, fevereiro 03, 2007


Hoje é o dia do enevoado. Quanto tudo se adensa. Em muitas situações exaltadas conseguimos descortinar para além das nuvens. Agora não. A pressão atmosférica é brutal e o nevoeiro não nos deixa ver o caminho. Não deixa ver sequer o perfil de quem passa, de que vem. Não deixa entrever a tão necessária luz para um coração que trago sempre jovem.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Sétima Legião


Porque amanhã é dia de começar a lidar com os implacáveis carrascos do ginásio, chuif :( , lembrei-me de pôr aqui qualquer coisa que me estivesse mesmo a apetecer...Procurei uma letra da Sétima Legião até à infinitude...Mas como não são horas de ir mexer no baú poeirento dos vinis e ter um ataque de alergia, e, no limitado mundo virtual nacional há 0 registos da dita letra...fiquei furiosa. Quase a desligar o computador, uma simpatia do acaso (à mistura com alguma teimosia inata), quis que encontrasse digitalizado na net o bilhete (que ainda guardo mas não tenho como digitalizar!), de um dos primeiros concertos a que fui com amigos. A memória dos primeiros tempos de liberdade, de um concerto fantástico e de uma época fervilhante da música portuguesa. Enfim, «saudades por apagar»... Era isso. Saudades por apagar.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Um girassol para o caminho


Saudades de todas as madrugadas não adormecidas. Saudades do cheiro doce a pão e azulejo quente a ripostar. Saudades do desconhecido convite para entrar. Saudades da lua cheia na maré vaza da praia onde cresci. Saudades de outras paragens, mundos de terra que quero pisar. Saudades de mundos paralelos que ficaste de me imaginar. Saudades do verão e de mim. Saudades de morangos ácidos roubados à lua de Março. Saudade de ti, do presente, do futuro e do passado por viajar. Faz-me falta o mar, as amoras, o riso, os gritos, a pressa. Saudade de abraços infinitos que não posso guardar. Saudades de um lugar estranho que me atiça as entranhas e as esvazia... E enquanto o frio vai corroendo todos os pedaços do meu estômago dorido, invento a oração que nunca soube rezar. É uma cantilena para que todos os girassóis que conheço se agitem naquela planície para além do Tejo. Conheço-os bem - já muito me ouviram em noites roxas. Vazia de cor, paro e peço: «acordem-me, aqueçam-me e levem-me para um cenário cheio de luz».