O Arroz de Casca

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Um girassol para o caminho


Saudades de todas as madrugadas não adormecidas. Saudades do cheiro doce a pão e azulejo quente a ripostar. Saudades do desconhecido convite para entrar. Saudades da lua cheia na maré vaza da praia onde cresci. Saudades de outras paragens, mundos de terra que quero pisar. Saudades de mundos paralelos que ficaste de me imaginar. Saudades do verão e de mim. Saudades de morangos ácidos roubados à lua de Março. Saudade de ti, do presente, do futuro e do passado por viajar. Faz-me falta o mar, as amoras, o riso, os gritos, a pressa. Saudade de abraços infinitos que não posso guardar. Saudades de um lugar estranho que me atiça as entranhas e as esvazia... E enquanto o frio vai corroendo todos os pedaços do meu estômago dorido, invento a oração que nunca soube rezar. É uma cantilena para que todos os girassóis que conheço se agitem naquela planície para além do Tejo. Conheço-os bem - já muito me ouviram em noites roxas. Vazia de cor, paro e peço: «acordem-me, aqueçam-me e levem-me para um cenário cheio de luz».