Zeca e o Desassossego

Cresci a ouvir o Zeca e não é porque em minha casa se ouvisse muita música. É porque o Zeca era e é inexcedível, porque era impossível ficar indiferente quando ouvia as suas melodias, a voz, o compasso. Era o arrepio que ainda hoje me contagia quando oiço as «Cantigas do Maio». Passam hoje 20 anos do dia do caixão transparente cravejado de cravos e passam também 20 anos sobre uma lição de liberdade, de música, de genialidade. José Afonso foi muito além do seu tempo - um músico que não ficou preso à mensagem política, porque era, na essência, muito mais do que isso. O Zeca não sabia ler uma pauta e sabia mais de música do que a maioria dos que a vão fazendo. E porque é pela arte, pela liberdade, pelo pensamento que nos vamos da lei da morte libertando, José Afonso cortou as suas amarras e ajudou a cortar um pouco das nossas. Nem tudo foi côr-de-rosa na militância política... Mas não é disso que falamos hoje. Hoje, somos nós que devemos amar um dos grandes que tivémos. Nós que, muito para além dos aniversários, podemos tão só escutá-lo. É a melhor homenagem que lhe podemos fazer. Obrigada pela arte e pelo desassossego. Obrigada, hoje e sempre. A tua música será maior que o pensamento.
2 Comments:
sem ter memória alguma reconheço esse arrepio.
e obrigada tb a ti, arroz de casca, por mais 1 grande texto "cheio", que no meio de tanta futilidade e falta de muita coisa sabe tão bemmmm. bjssss
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Anónimo, at 11:52 da manhã
:)
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g., at 2:15 da tarde
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