O Arroz de Casca

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Boas férias, Sr. Cesariny

Era assim que começava o texto de despedida que fiz para a última edição do "meu" malogrado jornal.
Nos últimos anos encontrava frequentemente Mário de Cesariny - um dos grandes da literatura em português. Um dos meus preferidos (que como Eugénio, estão a partir para outra dimensão). Encontrava aquele sr. esquelético de passos trémulos, sobretudo azul escuro e caderneta-da- caixa-na-mão. Ele olhava-a invariavelmente com ar intrigado - saberia lá ele que grande utilidade para o mundo teria a caderneta da caixa?. Não sabia, nem queria saber. Eu e o meu amigo - que lanchávamos juntos e filosofavamos sobre trivialidades do mundo - nunca tivémos coragem de lhe chegar ao pé. Chegar ao pé e dizer - como duas crianças a admirar um super-herói (surrealista) - "olhe, gostamos muito de si". Tenho pena, amigo (tenho tantas saudades das nossas trivialidades do mundo), que nunca o tenhamos feito. Os dois armados em adultos incolores. O Sr. Cesariny e a sua caderneta-da-caixa eram para mim uma nobilíssima visão: de quando em vez lá podia eu, a meio da jornada de trabalho, vislumbrar o autor da obra que tantas vezes me surpreendeu, me comoveu, me abraçou.
Creio que se estivesse vivo Cesariny, o poeta, gostaria de uma homenagem tão singela quanto esta: uma "estória" trivial. Creio que gostaria que nos despedissemos dele com um : "Boas férias, Sr. Cesariny". É que, onde quer que esteja, aposto que está de férias...

Ps - Porque será que quase todos os poetas do meu coração amam, como eu, os gatos?